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O preço da privacidade: qual o risco de escanear sua íris?

Em um cenário onde dados biométricos são tratados como ouro digital, a proposta de vender a imagem da íris a empresas como a World desperta debates acalorados entre especialistas em cibersegurança, direito digital e privacidade. O que motiva pessoas a aderirem a essa proposta? Leandro Araújo, motoboy, explica: “Eu fiquei sabendo a respeito desse cadastramento […]

Publicado: 07/12/2025 às 16:58
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Close-up de um olho humano com elementos digitais sobrepostos, incluindo redes interconectadas e luzes futuristas, representando tecnologia de biometria ocular e análise de dados. (escaneamento de íris, ANPD)
Construção civil — Foto: Reprodução

Em um cenário onde dados biométricos são tratados como ouro digital, a proposta de vender a imagem da íris a empresas como a World desperta debates acalorados entre especialistas em cibersegurança, direito digital e privacidade.

O que motiva pessoas a aderirem a essa proposta? Leandro Araújo, motoboy, explica: “Eu fiquei sabendo a respeito desse cadastramento pela internet, vai de boca, um fala aqui, outro fala lá  e assim chegou até mim. Procurei saber do que se tratava e descobri que é uma conta de criptomoeda, onde eles têm a moeda própria e, fazendo o cadastro, disponibilizam 20 moedas para começar a trabalhar com essa nova moeda no mercado”.

Henrique Garrido, porteiro, também foi atraído pela ideia, mas ressalta: “Eles falaram que futuramente o olho vai ser uma forma de identificação para outras coisas, porém enfatizaram que não têm acesso aos nossos dados. Tanto é que, na hora do cadastro, nem mexem no celular, é a própria pessoa quem faz”.

Leia também: World: escaneamento de íris viraliza no TikTok enquanto empresa enfrenta investigação da ANPD 

Riscos e incertezas do escaneamento de íris

Enquanto os participantes enxergam uma oportunidade de adiantar um futuro financeiro ou tecnológico, especialistas apontam para os riscos e incertezas dessa iniciativa. “A questão central é a falta de clareza sobre os propósitos reais desse arranjo”, afirma Rodrigo Rocha, especialista em cibersegurança e gerente de arquitetura de soluções da CG One. Para ele, embora a World alegue que os dados capturados sejam transformados em códigos não reversíveis, a incerteza quanto ao tratamento e à segurança desses dados gera uma sombra de desconfiança. “Se um vazamento acontecer, a íris não pode ser substituída como uma senha. Isso expõe o titular a riscos de roubo de identidade e outros usos maliciosos”, alerta.

Ricardo Oliveira, advogado e coautor do livro Lei Geral de Proteção de Dados Comentada, complementa o debate ao destacar a perspectiva legal. Segundo ele, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) permite a comercialização de dados pessoais pelo próprio titular, desde que o processo seja regulamentado e transparente. “A soberania digital não é violada se o arranjo for bem formatado e o titular aderir aos termos”, pondera. Entretanto, ele ressalta que, em caso de uso inadequado ou vazamento, a lei pode ser acionada.

A preocupação com a privacidade também se manifesta no uso potencial desses dados. Rodrigo Rocha menciona que, com o avanço da tecnologia, é possível que bancos e serviços digitais adotem a íris como forma de autenticação. “Se essas informações forem comprometidas, o impacto pode ser financeiro e pessoal, envolvendo acessos não autorizados a contas bancárias ou e-mails”, diz. Além disso, ele chama atenção para as implicações sociais: “O uso para segregação étnica e de gênero, por exemplo, é uma possibilidade alarmante e real”.

A questão também alcança uma dimensão global. Rocha aponta que a World já enfrenta investigações e sanções em países como Espanha, Quênia, Chile e Brasil, onde a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) solicitou esclarecimentos sobre o modelo de negócio. A incerteza sobre a segurança do processo também alimenta as críticas. “O fato de os participantes serem remunerados é um indicativo de que talvez o valor desses dados seja maior do que aparenta”, comenta.

Clareza no processo

Oliveira, por sua vez, adota uma perspectiva pragmática sobre a comercialização de dados pessoais. “Desde que o titular compreenda os termos e esteja ciente dos riscos, não há irregularidade. A grande questão é garantir transparência e segurança”, explica. Ele também reforça a importância de que os dados sejam devidamente criptografados e eliminados após o uso, minimizando os riscos de uso indevido.

Mas será que a população está ciente dos riscos associados ao uso indevido de seus dados biométricos? Para Leandro Araújo, que decidiu cadastrar sua íris, o processo foi apresentado como algo direto e simplificado. “É, tipo, uma palestra explicando. Dura, sei lá, 15 minutos. Eles falam que é um bilionário dando essas criptomoedas.”

Henrique Garrido, outro participante que cedeu seus dados biométricos, teve uma percepção diferente. “Não, eles não explicam muito, não. É tipo, assim, um seguro, né? Eles falaram que, futuramente, o olho vai ser uma forma de identificação para outras coisas.”

Para muitos, a promessa de uma identificação biométrica segura e universal soa como um avanço inevitável. No entanto, enquanto os riscos permanecerem nebulosos e as respostas das empresas forem insuficientes, o futuro dessa tecnologia continuará em aberto. Como brinca Rocha, em entrevista, “quando a esmola é demais, o santo desconfia”.

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