Fábula da galinha dos ovos de ouro ajuda em implantação consciente da IA

A fábula atribuída a Esopo é uma velha conhecida! Era uma vez um fazendeiro que possuía uma galinha que, todos os dias, botava um ovo de ouro. Com isso, ele ficou muito rico, mas, com o tempo, sucumbiu à ganância. E assim pensou que, se a galinha botava ovos de ouro, dentro dela deveria haver […]

Publicado: 10/12/2025 às 23:36
Leitura
6 minutos
A fábula atribuída a Esopo pode ajudar em uma implantação consciente dessa tecnologia (Imagem: Paulo Silvestre/Creative Commons)
Construção civil — Foto: Reprodução

A fábula atribuída a Esopo é uma velha conhecida! Era uma vez um fazendeiro que possuía uma galinha que, todos os dias, botava um ovo de ouro. Com isso, ele ficou muito rico, mas, com o tempo, sucumbiu à ganância. E assim pensou que, se a galinha botava ovos de ouro, dentro dela deveria haver uma grande quantidade do metal. Decidiu matá-la para pegar todo o ouro de uma vez, mas descobriu, ao cortá-la, que, por dentro, era como qualquer outra galinha.

A história demonstra os perigos de se querer resultados imediatos sem pensar nas consequências. E há tempos a relaciono a usos inadequados da inteligência artificial generativa, que deslumbra muitos gestores. Eles a veem como a tecnologia dos “ovos de ouro”: inovação, produtividade e redução de custos! Mas ao usá-la sem planejamento, ética ou compreensão, esses gestores podem “matar sua galinha”.

Leia mais: Você não precisa perder o seu emprego para a IA

Ao implantar a IA sem considerar os impactos sociais, regulatórios ou organizacionais, como a perda de empregos, vieses algorítmicos ou uso irresponsável de dados, eles minam a confiança dos clientes, pioram a experiência deles com a marca, prejudicam a sua reputação e até enfrentam consequências legais.

Pensei nisso na semana passada em uma conversa com Tiago Paiva, fundador e CEO da Talkdesk, quando disse que “há muitas empresas que não conseguem perceber que a experiência do cliente é das coisas mais importantes que há.” E ele fala com propriedade, pois seus produtos automatizam o atendimento a clientes com um bom uso da IA, em uma missão declarada de “livrar o mundo da experiência do cliente ruim”.

De fato, o atendimento é uma das áreas mais impactadas pela IA. Usada corretamente, essa tecnologia pode mesmo levar a experiência do cliente a um novo patamar. Porém, muitos gestores ainda “matam suas galinhas” ao usá-la irresponsavelmente para inflar resultados.


Veja esse artigo em vídeo:


É curioso que vivemos um “paradoxo da automação”. Ele indica que clientes esperam que empresas ofereçam suporte automatizado eficiente, mas as que automatizam demais seu atendimento afugentam as pessoas. O segredo é encontrar um equilíbrio, com a IA resolvendo problemas simples, ficando os casos sensíveis para os humanos.

“O problema é que, no passado, com a chegada dos bots, foi criada uma expectativa maior que a capacidade da entrega, e isso danificou a imagem dessas automações”, explicou-me Pedro Andrade, vice-presidente de IA da Talkdesk. “Agora temos que usar essa tecnologia para recuperar essa confiança”, acrescenta.

Infelizmente, muitas companhias usam a IA com automações isoladas, motivadas pelo “ovo de ouro” do corte de custos. Assim, ameaçam a experiência de seus clientes e perdem a oportunidade de transformar o atendimento em um diferencial.

Usada com consciência, a IA pode oferecer personalização refinada, eficiência operacional, proatividade e prevenção. Não se limita a reagir aos clientes, antecipando suas necessidades e otimizando processos, exatamente o que as pessoas querem.

“Não é fácil fazer isso”, avisa Andrade. “Mas para os sistemas de IA, que são capazes de carregar grande quantidade de informação e ajustar o contexto da conversa, torna-se muito mais fácil”, explicando que uma plataforma bem desenvolvida atende a outras demandas dos clientes atuais, como imediatismo, hiperpersonalização e autonomia.

“Bazuca para matar uma mosca”

Pouco adianta usar um sistema gigantesco, porém pouco ou nada ajustado à realidade da empresa, como o ChatGPT. Suas respostas acabam sendo imprecisas e genéricas, sem falar que podem custar desnecessariamente caro. Em vez disso, a adoção de modelos menores, mais econômicos, com exigências mais simples de recursos, pode melhorar muito a experiência do cliente.

Os aspectos de segurança, de legislação e de ética também foram amplamente debatidos nessa visita à sede da Talkdesk em Palo Alto (EUA). Os benefícios da implantação da IA nos negócios são mais visíveis, como as já mencionadas eficiência, hiperpersonalização e redução de custos. Mas até que ponto isso é seguro e ético?

Os potenciais riscos dessa adoção recaem no surgimento de vieses algorítmicos, em ameaças à privacidade e ao uso de dados sensíveis, na falta de transparência e de explicabilidade das decisões dos sistemas. Em situações mais extremas, ela pode gerar dependência excessiva da automação e manipulação de clientes e funcionários.

“Muitos clientes erram ao pôr uma plataforma e tentar fazer tudo com ela, pois a inteligência artificial é mais complicada que isso”, alerta Paiva. “Não dá para usar um sistema de LLMs (como o ChatGPT) e achar que tudo funcionará”, conclui.

Para ajudar na criação de um mercado mais maduro, Andrade defende a regulamentação da IA. “Tem que existir regulação, responsabilidades, regras de transparência”, completando que isso não ameaça a inovação e que as empresas que abraçarem isso construirão um diferencial junto a seus clientes. “Essa regulação vai separar as empresas que estão no mercado sério e corporativo de IA, dos players de nicho e dos que estão ainda tentando encontrar o seu lugar.”

Esse é um dos debates mais quentes em torno dessa tecnologia. Para muitos, é bem sedutor tirar qualquer restrição a ela e maximizar os ganhos, sem se preocupar com as consequências. Mas uma IA descolada da ética e da segurança pode ser um dos maiores erros que uma empresa pode cometer, ainda que, em um primeiro momento, colha benefícios aparentes dessa “liberdade”.

O sucesso a longo prazo depende da capacidade de construir um relacionamento sustentável com a IA, cultivando seus benefícios e mitigando seus riscos. O ser humano deve sempre ter a última palavra nas decisões apoiadas por essas plataformas. E os interesses da sociedade devem estar sempre no centro de qualquer ação ligada a essa tecnologia, superando a ganância de empresas e de governos.

Assim como na fábula, a lição é que a implementação de IA requer paciência, planejamento e uma abordagem gradual e responsável. Os “ovos de ouro” virão naturalmente quando a tecnologia for implementada com sabedoria e responsabilidade.

Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!

As melhores notícias de tecnologia B2B em primeira mão
Acompanhe todas as novidades diretamente na sua caixa de entrada
Imagem do ícone
Notícias
Imagem do ícone
Revistas
Imagem do ícone
Materiais
Imagem do ícone
Eventos
Imagem do ícone
Marketing
Imagem do ícone
Sustentabilidade
Autor
Notícias relacionadas