Vivemos em um momento em que a inovação deixou de ser apenas uma vantagem competitiva para se tornar, muitas vezes, uma exigência do mercado. Em meio a esse cenário de alta velocidade e promessas disruptivas, novas tecnologias surgem quase diariamente, como blockchain, metaverso, computação quântica e inteligência artificial generativa. O problema é que, junto com […]
Vivemos em um momento em que a inovação deixou de ser apenas uma vantagem competitiva para se tornar, muitas vezes, uma exigência do mercado. Em meio a esse cenário de alta velocidade e promessas disruptivas, novas tecnologias surgem quase diariamente, como blockchain, metaverso, computação quântica e inteligência artificial generativa. O problema é que, junto com essas inovações, cresce também o risco do hype: a adoção precipitada de ferramentas por modismo, sem uma análise crítica de sua real aplicabilidade e valor.
Conforme um estudo da Gartner, os investimentos globais em novas tecnologias cresceram cerca de 8% em 2024, movimentando um valor aproximado de US$ 5,1 trilhões. No Brasil, empresas de médio porte aumentaram significativamente os investimentos em Tecnologia da Informação (TI) no último ano, por exemplo.
Um outro levantamento, da International Business Report (IBR), produzido pela consultoria Grant Thornton, mostra que o país é o segundo com a maior intenção de investir em TI. A pesquisa aponta que 80% dos empresários brasileiros confirmaram planos de ampliar os recursos destinados à área, percentual superior à média da América Latina (69%) e ao índice global (61%).
Essa expansão no investimento revela não apenas uma busca por modernização, mas também um risco latente: a tentação de apostar em inovações sem um alinhamento claro com a estratégia da empresa. É aqui que muitas organizações se perdem seduzidas por soluções promissoras que, na prática, pouco contribuem para seus objetivos de negócio.
O ciclo do hype, popularizado pela própria Gartner, nos ajuda a entender esse fenômeno. Tecnologias emergem, ganham atenção desproporcional e são rapidamente incorporadas ao discurso empresarial, mesmo quando ainda carecem de maturidade técnica, viabilidade econômica ou aderência ao contexto corporativo.
O exemplo mais emblemático dos últimos anos talvez seja o metaverso corporativo. Entre 2021 e 2023, empresas correram para lançar escritórios virtuais e experiências imersivas com avatares digitais. Porém, em 2024, segundo o Hype Cycle for Emerging Technologies da Gartner, o metaverso entrou no chamado “Vale da Desilusão”, fase em que as expectativas caem e muitos projetos são abandonados. A promessa de reuniões mais engajantes e colaboração inovadora deu lugar a plataformas de baixa adesão, alto custo e produtividade questionável.
O mesmo ocorreu com os NFTs corporativos. Muitas marcas embarcaram em campanhas de marketing baseadas em tokens não fungíveis, um fenômeno que perdeu fôlego rapidamente. Sem um valor percebido claro para o consumidor, os projetos não passaram de ações promocionais vazias.
Em outra frente, o blockchain, embora promissor em setores como supply chain e serviços financeiros, acabou sendo aplicado, em muitos casos, de forma ineficiente, substituindo tecnologias centralizadas mais simples e baratas, sem ganhos tangíveis.
Para separar o que é moda do que é estratégico, é necessário aplicar um filtro que considere três critérios fundamentais: impacto real no negócio, capacidade de escalabilidade e aderência ao momento da organização.
A Inteligência Artificial Generativa, por exemplo, tem potencial disruptivo, mas seu valor só se concretiza quando aplicada de forma direcionada. Citando agora um outro levantamento da Gartner, os dados apontam que 30% dos projetos de IA generativa serão abandonados até o fim de 2025, sobretudo por falta de governança, qualidade de dados e objetivos claros. Ou seja, não basta ter acesso à tecnologia: é preciso contextualizá-la.
Leia mais: O que você está fazendo com o tempo que a IA te devolve?
Por outro lado, ferramentas como plataformas low-code/no-code e RPA (Automação Robótica de Processos), quando integradas de forma inteligente ao cotidiano operacional, vêm gerando ganhos comprovados em agilidade e eficiência. Os números mostram que 75% das grandes empresas utilizarão ao menos quatro ferramentas low-code até 2025, acelerando o ciclo de desenvolvimento sem comprometer a segurança e a governança.
Outro exemplo é o avanço das práticas de FinOps, uma abordagem voltada à gestão financeira da nuvem. Em 2023, 69% das organizações ultrapassaram seus orçamentos com cloud computing, de acordo com a própria consultoria. A adoção de FinOps permite controlar esses custos, mantendo o foco no retorno e na otimização de recursos.
Mais do que adotar ou descartar tecnologias, o ponto central é a maturidade da liderança na tomada de decisão. É fundamental que os CIOs, CTOs e executivos de inovação estejam preparados para questionar:
A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) mostra que em 5 anos serão criados quase 800 mil novos postos, mas o Brasil forma pouco mais de 53 mil profissionais de tecnologia por ano, o que deve abrir um déficit de 532 mil pessoas para trabalhar na área.
Além disso, segundo projeções do Fórum Econômico Mundial, as tendências mundiais em transformação, como tecnologia, economia, demografia e a transição verde, devem gerar 170 milhões de novos empregos até 2030. No entanto, sem um pensamento crítico, o risco é desperdiçar tempo, orçamento e capital político em projetos que não saem do piloto, ou pior, que criam ruído interno e frustram expectativas dos profissionais, clientes e stakeholders.
A inovação com propósito é o que transforma!
Em tempos de efervescência tecnológica, a inovação só é verdadeiramente eficaz quando nasce de um propósito claro e está ancorada na realidade do negócio. O hype pode ser tentador, mas a diferenciação sustentável vem daquilo que é pensado com estratégia, executado com foco e escalado com consistência.
Separar modismo de valor real é hoje uma habilidade-chave para qualquer empresa que deseja não apenas inovar, mas inovar com impacto.
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