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Silvio Meira

Como pensar, desenhar e fazer o futuro? Silvio Meira explica no IT Forum Trancoso 2025

“Um vale não se transporta.” A frase, dita por Silvio Meira, um dos maiores expoentes da inovação tecnológica no Brasil, diante de uma plateia de executivos e CIOs no IT Forum Trancoso 2025, foi menos uma metáfora e mais um diagnóstico. Segundo ele, o erro mais comum de quem busca inovação no Brasil é tentar […]

Publicado: 06/12/2025 às 11:13
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Silvio Meira no palco do IT Forum Trancoso 2025. Imagem PlayP Brasil
Construção civil — Foto: Reprodução

“Um vale não se transporta.” A frase, dita por Silvio Meira, um dos maiores expoentes da inovação tecnológica no Brasil, diante de uma plateia de executivos e CIOs no IT Forum Trancoso 2025, foi menos uma metáfora e mais um diagnóstico. Segundo ele, o erro mais comum de quem busca inovação no Brasil é tentar copiar, com atraso, fórmulas que funcionaram em outros territórios, em contextos radicalmente diferentes.

“Recife é o delta dos rios Capibaribe e Beberibe. A pergunta que nos moveu não foi como criar um novo Vale do Silício, mas como redesenhar e reinvadir o Porto do Recife”, afirmou.

O cientista-chefe da tds.company apresentou no evento sua visão de como projetar futuros — processo que, segundo ele, envolve quatro verbos: pensar, desenhar, criar e fazer. “Se foi possível em Recife, é possível em qualquer lugar do Brasil”, disse.

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De cracolândia à política pública

Criado no ano 2000 com apenas duas empresas, o Porto Digital ocupa hoje mais de 250 mil m² no centro histórico do Recife, abriga 465 empresas e emprega 21 mil pessoas.

Meira define o Porto Digital como uma política pública de Estado, com um investimento inicial de R$ 33 milhões do governo de Pernambuco, que sobreviveu a 12 eleições diferentes. Hoje, o projeto é autossustentável financeiramente.

“Quando chegamos, aquilo era uma cracolândia. A pergunta era: como a gente recupera o centro do Recife?”, lembrou. Além da reocupação física, o projeto integrou vida urbana, arte, cultura e um ecossistema de inovação, promovendo impacto econômico, social e político em uma das capitais mais desiguais do Brasil.

Três aprendizados para o futuro

A palestra foi estruturada em torno de três eixos: irracionalidade construtiva, paraconsistência e protagonismo coletivo.

1. Irracionalidade construtiva

Para Meira, a obsessão pela racionalidade e pela eficiência leva à estagnação. “A racionalidade é destrutiva. É baseada em teorias de jogos e modelos de gestão estratégica voltados apenas a responder aos concorrentes”, disse.

Segundo ele, o ambiente atual exige ousadia cognitiva, inovação multidimensional e aceitação do risco. Isso envolve tomar decisões mesmo diante de incertezas — o que ele chama de irracionalidade construtiva.

O impacto dessa abordagem se revela em números: o faturamento das empresas do Porto Digital cresceu 226% nos últimos seis anos.

A irracionalidade bem administrada, explicou Meira, permite:

  • questionar premissas dominantes;

  • gerar diferenciação impensável;

  • estimular ciclos de aprendizagem contínuos;

  • e criar valor em escala para o ecossistema.

“É preciso criar segurança psicológica para os times, trabalhar com efeitos de rede, garantir saúde e qualidade de vida e, principalmente, incluir. Porque o que importa são as pessoas.”

2. Paraconsistência

Inspirado na lógica filosófica da paraconsistência, Meira defende que sistemas complexos exigem aceitar contradições.

“Modelos de negócio hipercomplexos tendem ao colapso. E é quase impossível simplificá-los sem destruir o que os sustenta”, explicou. A saída, para ele, é adotar uma governança dinâmica, capaz de lidar com múltiplas verdades parciais.

“Uma proposição pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo, dependendo do contexto. Essa é uma transformação profundamente pragmática”, disse.

Segundo ele, o desafio dos próximos anos será monitorar em tempo real o risco de colapso dos sistemas, equilibrando inovação, irracionalidade, responsabilidade e resiliência.

3. Protagonismo coletivo

Por fim, Meira apresentou as cinco leis do protagonismo coletivo, que propõem uma nova lógica de liderança:

  1. Lei da interdependência existencial – o protagonismo individual só faz sentido quando integrado ao coletivo.

  2. Lei da substituição estratégica – o líder verdadeiro pode se afastar da linha de frente sem que o sistema colapse.

  3. Lei do reconhecimento reflexivo – o reconhecimento individual deve vir como reflexo da atuação no grupo.

  4. Lei do equilíbrio dinâmico – há uma tensão produtiva entre ação individual e potencial coletivo.

  5. Lei da perpetuidade do protagonismo – o protagonismo precisa circular, e não se concentrar.

Para o cientista, modelos hierárquicos clássicos colapsam em ambientes figitais (físico + digital), onde negócios e mercados operam em rede. O líder passa a ser um habilitador, que remove barreiras e cria conexões, funcionando como vetor de confiança.

Reconstrução permanente

O futuro, segundo Meira, será moldado por hiperconectividade, sincronicidade, irreversibilidade, invisibilidade paradoxal e transcendência pragmática. Para navegar nesse cenário, ele propõe a necessidade de “reconstruir o futuro continuamente. Com irracionalidade, paraconsistência e protagonismo.”

Ele encerrou a apresentação citando Caetano Veloso: “Gente foi feita pra ser feliz em uma vida que é um doce mistério.”

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